quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Benção de Ano Novo!


Samba da Benção

É melhor ser alegre que ser triste
Alegria é a melhor coisa que existe
É assim como a luz no coração
Mas pra fazer um samba com beleza
É preciso um bocado de tristeza
É preciso um bocado de tristeza
Senão, não se faz um samba não
Senão é como amar uma mulher só linda
E daí?
Uma mulher tem que ter
Qualquer coisa além de beleza
Qualquer coisa de triste
Qualquer coisa que chora
Qualquer coisa que sente saudade
Um molejo de amor machucado
Uma beleza que vem da tristeza
De se saber mulher
Feita apenas para amar
Para sofrer pelo seu amor
E pra ser só perdão

Fazer samba não é contar piada
E quem faz samba assim não é de nada
O bom samba é uma forma de oração
Porque o samba é a tristeza que balança
E a tristeza tem sempre uma esperança
A tristeza tem sempre uma esperança
De um dia não ser mais triste não
Feito essa gente que anda por aí
Brincando com a vida
Cuidado, companheiro!
A vida é pra valer
E não se engane não, tem uma só
Duas mesmo que é bom
Ninguém vai me dizer que tem
Sem provar muito bem provado
Com certidão passada em cartório do céu
E assinado embaixo: Deus
E com firma reconhecida!
A vida não é brincadeira, amigo
A vida é arte do encontro
Embora haja tanto desencontro pela vida
Há sempre uma mulher à sua espera
Com os olhos cheios de carinho
E as mãos cheias de perdão
Ponha um pouco de amor na sua vida
Como no seu samba

Ponha um pouco de amor numa cadência
E vai ver que ninguém no mundo vence
A beleza que tem um samba, não
Porque o samba nasceu lá na Bahia
E se hoje ele é branco na poesia
Se hoje ele é branco na poesia
Ele é negro demais no coração
Eu, por exemplo, o capitão do mato
Vinicius de Moraes
Poeta e diplomata
O branco mais preto do Brasil
Na linha direta de Xangô, saravá!
A bênção, Senhora
A maior ialorixá da Bahia
Terra de Caymmi e João Gilberto
A bênção, Pixinguinha
Tu que choraste na flauta
Todas as minhas mágoas de amor
A bênção, Sinhô, a benção, Cartola
A bênção, Ismael Silva
Sua bênção, Heitor dos Prazeres
A bênção, Nelson Cavaquinho
A bênção, Geraldo Pereira
A bênção, meu bom Cyro Monteiro
Você, sobrinho de Nonô
A bênção, Noel, sua bênção, Ary
A bênção, todos os grandes
Sambistas do Brasil
Branco, preto, mulato
Lindo como a pele macia de Oxum
A bênção, maestro Antonio Carlos Jobim
Parceiro e amigo querido
Que já viajaste tantas canções comigo
E ainda há tantas por viajar
A bênção, Carlinhos Lyra
Parceiro cem por cento
Você que une a ação ao sentimento
E ao pensamento
A bênção, a bênção, Baden Powell
Amigo novo, parceiro novo
Que fizeste este samba comigo
A bênção, amigo
A bênção, maestro Moacir Santos
Não és um só, és tantos como
O meu Brasil de todos os santos
Inclusive meu São Sebastião
Saravá! A bênção, que eu vou partir
Eu vou ter que dizer adeus
Ponha um pouco de amor numa cadência
E vai ver que ninguém no mundo vence
A beleza que tem um samba, não
Porque o samba nasceu lá na Bahia
E se hoje ele é branco na poesia
Se hoje ele é branco na poesia
Ele é negro demais no coração

(Vinícius de Morais)
A Benção, minha amada mãe Yemanjá!
A Benção, meu pai Oxalá!
A Benção, queridos amigos... trago-os em meu coração!
Feliz 2010 para todos!!!

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

NATAL

Natal! Os sinos tocam, os homens se alegram.

É Natal! Pena que a humanidade não entenda o seu verdadeiro significado.

Apenas comemora, comendo e bebendo, sem penetrar no verdadeiro significado da vinda de Jesus, o Senhor e Mestre, até nós.

Vinte séculos! E a humanidade continua perdida, mesmo tendo à sua frente o guia maior a conduzi-la. Perde-se , ainda maravilhada pela paisagem da estrada evolutiva, sem se atinar com o Mestre que lhe vai à frente.

Natal! Os sinos tocam, os homens cantam, comem e bebem, e a mensagem permanece escondida e esquecida! É Natal! E a humanidade caminha tropegamente sem rumo e sem bússola, apesar da bússola, que é Jesus.

Natal! Noite de Amor! Amor do Pai por suas criaturas!! Amor de Jesus por seus tutelados, os homens todos!

Aproveitemos a Noite de Natal para refletirmos. Voltemos no tempo até aquela cidadezinha da Judéia, onde Jesus nasceu. Cidade pequena e regurgitando de gente que foi até ali, para o recenseamento decretado por Augusto. Maria, cansada da viagem difícil que encetara, principalmente por se encontrar grávida, dava sinais de estar perto de dar à luz. José, pressuroso, busca a estalagem, conversa com o estalajadeiro, explicando-lhe a situação de sua mulher. O homem, irredutível, esclarece que nada pode fazer.

Não existe sequer um aposento para abrigar o casal. De nada valem os apelos e as explicações de José. Maria aguarda, paciente, a volta do marido. José insiste, o estalajadeiro responde ser-lhe impossível atender a José. Isto, de repente, se lembra do estábulo e diz: - Tenho, sim, um lugar apenas. Aliás, não é um aposento humano, mas um abrigo de animais, a estrebaria. Se quiserem poderão abrigar-se lá. José vai até Maria, narra-lhe o ocorrido e informa a existência de um único lugar. Maria aceita, resignada e agradecida. José volta ao homem e diz-lhe que aceita o oferecimento, agradecendo-lhe a gentileza.

José e Maria deixaram-nos, com esse gesto, um exemplo de humildade e resignação diante da dificuldade que enfrentavam em uma terra estranha. Abrigaram-se, e Jesus nasce.


O Senhor nasce em uma estrebaria. Não teve lugar entre os homens e nasce entre os animais.

Ele, o guia maior da humanidade, não encontrara, entre os homens, um lugar para nascer...

O nascimento de Jesus é rico de ensinamento para quem tiver olhos de ver.

O Senhor e Mestre, Mestre dos mestres, nasce entre os animais para nos transmitir a sua primeira lição. Vinha para ensinar a humanidade e começava a sua vida ministrando os primeiros ensinamentos: o da humildade e o da pobreza.

Os homens , para evoluírem, progredirem e ascenderem aos paramos celestiais, não precisarão jamais da riqueza, da posição social ou do poder, mas da humildade e simplicidade de vida.

O dinheiro, embora necessário, só servirá ao corpo , tão – somente à vida material, sem nenhum reflexo na vida espiritual. Humildade e simplicidade espirituais, duas alavancas propulsoras do crescimento espiritual e da ascensão.

Jesus, sem palavras, transmite seus ensinamentos principais, desenvolvendo-os durante toda a sua vida.

Os homens não entendem a mensagem . E, muito cedo, transformam o nascimento de Jesus em uma festa profana, sem significado espiritual algum. Festas, comida, bebida e diversão. Nenhuma reflexão, nenhum aprendizado.

Natal! Dia da humanidade. Chegada do mensageiro maior de Deus, aquele em quem Deus colocava toda a sua complacência, e continua desconhecido da humanidade, até mesmo dos cristãos.

Irmãos, reflitam bem no acontecimento. Reflitam bem, muito bem, tirando do evento, a lição que nos traz.

É tempo já de entendermos a verdadeira mensagem do Natal. É tempo já de vivenciarmos os ensinamentos trazidos pelo Mestre. Natal, noite de paz e de amor! “Paz na Terra e boa-vontade para com os homens”. Deus ama suas criaturas, todas, especialmente a humana. Os céus têm demonstrado sua boa-vontade para com os homens. É tempo de o homem aproveitar a Boa-Vontade Divina e re-arrumar a sua vida.
Precisamos estabelecer a paz em nossos corações. E o faremos se vivermos a mensagem do Natal. Se conseguirmos a nossa paz, a humanidade toda, mais dia menos dia, usufruirá a paz, produto da paz individual, de cada homem, e a soma de toda a paz dos homens.

Jesus, nesta noite que a humanidade cristã convencionou ser a do teu nascimento, nós te pedimos, abençoa a humanidade toda, iluminando-a para que encontre o caminho da concórdia, da tolerância e da paz, para estabelecer a verdadeira fraternidade sobre toda a Terra.

Compadece-te do homem. Ele ainda está perdido no cipoal do erro que criou para si mesmo. Ilumina-o, Mestre Divino, para que, sob os revérberos de tua luz, possa ele acordar para a verdadeira razão de sua vida e buscar o entendimento com o qual poderá dar um sentido novo à sua própria vida.

Compadece-te, Mestre Divino, da humanidade toda, continuando, Senhor, a espargir sobre ela a mensagem consoladora e esclarecedora por meio de teus mensageiros que, a postos, procuram servir-te na pessoa do irmão necessitado de compreensão, consolo, esclarecimento e estímulo.

A Terra , Senhor, atinge o seu ponto de transição crítico, acentuado. A humanidade sofre, se debate e se desespera. As religiões quedam-se aturdidas, sem explicações lógicas para os problemas que afligem os homens todos, uns mais, outros menos, e sem respostas para as perguntas que saem dos corações e da razão humanos.

Mestre Amigo, que teus mensageiros possam esclarecer-nos a todos, respondendo às perguntas e desfazendo as dúvidas, fortalecendo-nos o espírito.

Mestre de amor, alimenta a nossa sensibilidade, fazendo-nos emissários do teu amor, guia de povos e luz para os outros, em teu nome e para glória do Pai de todos nós.

Assim seja.

(ditado por Emmanuel - por intermédio de Expedito Luiz Leão)

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

PANTA REI = (Tudo muda)

Compartilhando a arte e o ensinamento ao desapego.

É um trabalho impressionante dos monges budistas que fazem as mandalas de sal colorido. Feitas com o maior cuidado e com a maior dedicação, elas são desmanchadas logo depois de prontas para demonstrar a transitoriedade das coisas na vida, mesmo que elas exijam o maior esforço. Assim é que nós devemos encarar o dia-a-dia. E sempre prontos para começar tudo de novo, se preciso for. Perca o referencial de vez em quando. Saia de sua zona de conforto. Dê oportunidade ao imprevisível.
Nada é mais certo do que a incerteza. As coisas têm o valor que nós damos a elas.

"Panta Rei" é uma expressão do pensador Heráclito, que significa Tudo muda (tudo flui, nada persiste ) - e ele usava como metáfora filosófica a idéia de pisar num Rio , que um milésimo de segundo depois de pisado, já não era mais feito da mesma água.

A Saúde - A nossa maior dádiva!
A Oração - A solução para os dias atuais com a Terra em transição!
A Paz - Busque-a na sua Energia Vital, no interior do seu ser!
O Amor - O elo, a razão e o entendimento para tudo!
O Perdão - A ascensão espiritual!
O Trabalho - É o nosso estímulo!
A Humildade - É a sabedoria!
O Orgulho - é a maior DOENÇA da ALMA!

sábado, 12 de dezembro de 2009

Eu vi uma rosa

Eu vi uma rosa
- Uma rosa branca -
Sozinha no galho.
No galho? Sozinha
No jardim, na rua.

Sozinha no mundo.

Em torno, no entanto,
Ao sol de meio-dia,
Toda a natureza
Em formas e cores
E sons esplendia.

Tudo isso era excesso.

A graça essencial,
Mistério inefável
- Sobrenatural -
Da vida e do mundo,
Estava ali a rosa
Sozinha no galho.

Sozinha no tempo.

Tão pura e modesta,
Tão perto do chão,
Tão linge na glória
Da mística alvura,
Dir-se-ia que ouvisse
Do arcanjo invisível
As palavras santas
De outra Anunciação.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Sossega, coração! Não desesperes!

Sossega, coração! Não desesperes!
Sossega, coração! Não desesperes!
Talvez um dia, para além dos dias,
Encontres o que queres porque o queres.
Então, livre de falsas nostalgias,
Atingirás a perfeição de seres.
Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!
Pobre esperença a de existir somente!
Como quem passa a mão pelo cabelo
E em si mesmo se sente diferente,
Como faz mal ao sonho o concebê-lo!
Sossega, coração, contudo!
Dorme!
O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme,
A grande, universal, solente pausa
Antes que tudo em tudo se transforme.
(Fernando Pessoa)

O Mar jaz

O Mar Jaz

O mar jaz; gemem em segredo os ventos
Em Eolo cativos;
Só com as pontas do tridente as vastas
Águas franze Netuno;
E a praia é alva e cheia de pequenos
Brilhos sob o sol claro.
Inutilmente parecemos grandes.
Nada, no alheio mundo,
Nossa vista grandeza reconhece
Ou com razão nos serve.
Se aqui de um manso mar meu fundo indício
Três ondas o apagam,
Que me fará o mar que na atra praia
Ecoa de Saturno?
(Ricardo Reis, heterônimo de Fernando Pessoa)

Foto a bordo do Navio do Princípe, na Baia de São Francisco, SC.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Série Astecas

Sem título, 2009.
Nanquim sobre papel vegetal, finalizado em photoshop.

Esse desenho eu me aventurei em arte finalizar e colorir digitalmente ... Foi minha primeira experiência com finalização via photoshop. Mas, o resultado até que ficou interessante.

L’étranger de Charles Baudelaire

Eu acredito que poesia deve ser lida no original, mas não é por diletantismo meu... muitas vezes recorro ao dicionário e mesmo à tradução. Acredito que no original não se perde as nuances típicas do idioma.

Assim sendo, hoje de manhã eu li esse pequeno poema em prosa do Baudelaire e achei interessante, intrigante e até um pouco engraçado. Por isso o publico aqui.

Para aqueles que não sabem francês, ou são como eu, iniciantes nessa língua, segue abaixo a tradução (não está uma maravilha, mas fiz meu melhor - caso alguém consiga uma tradução melhor, aceito de bom grado).


L’étranger
Qui aimes-tu le mieux, homme énigmatique, dis ? Ton père, ta mère, ta soeur ou ton frère ?
- Je n'ai ni père, ni mère, ni soeur, ni frère.
- Tes amis ? - Vous vous servez là d’une parole dont le sens m'est restée jusqu'à ce jour inconnu.
- Ta patrie ?
- J'ignore sous quelle latitude elle est située.
- La beauté ?
- Je l’aimerais volontiers, déesse et immortelle.
- L’or ?
- Je le hais comme vous haïssez Dieu.
- Eh ! qu'aimes-tu donc, extraordinaire étranger ?
- J'aime les nuages... les nuages qui passent... là-bas... là-bas... les merveilleux nuages !


O Estrangeiro
A quem você mais ama, homem enigmático, hein? Seu pai, sua mãe, sua irmã ou seu irmão?
- Não tenho nem pai, nem mãe, nem irmã, nem irmão.
- Seus amigos?
- Você usa uma palavra cujo significado ficou desconhecida para mim até agora.
- Sua pátria?
- Eu não sei em que latitude ela se situa.
- A Beleza?
- Eu a amaria de muito bom grado, deusa e imortal.
- O Ouro?
- Eu o odeio como você odeia a Deus.
- Eh! O que você ama então, extraordinário estrangeiro?
- Eu amo as nuvens ... as nuvens que passam ... lá longe ... lá longe ... as maravilhosas nuvens!
(Fonte: BAUDELAIRE, Charles. Petits poèmes en prose. Paris: Pocket, 2008)